Como há quem nasce para o amor, quem nasce para a guerra, quem nasce para mudar e quem nasce para morrer, eu nasci para as palavras. É com certo orgulho que eu aprendo as novas e seus significados, é com certo ego que eu ostento elas. Despejo-as por aí, esperando quem vai parar e olhar, quem vai tentar entender. Às vezes encontro ouvintes. Outras vezes, encontro despejos. E aí, cabe a cada um cada palavra não-dita, mal-dita...
Sou hipócrita. Todos somos hipócritas. Maldita mania de seleção: às vezes sou ouvinte, quando deveria ser despejo. E vice-versa. Cobro a mais ou a menos do que deveria receber, mas sempre cobro. E acabo me fundindo com despejos existenciais, envolvida nas suas sobras, me divertindo com suas sujeiras mais profundas, seus membros físicos.
Não é uma reclamação. Pessoas como eu ficam amargas se passam muito tempo sem ao menos algumas horas de sujeira. É mais do que prazeroso me deixar escoar sem medo, ver o que havia de mais duro dentro de mim virar líquido e escorrer pelos ralos de alguém.
Com quem você quer falar por horas e horas e horas?