terça-feira, 27 de julho de 2010

Por onde andou?

Eu estive bem, obrigada. Vivendo, eu andei vivendo...


Seria exagero comparar felicidade pura e simples a um uso exagerado de analgésicos? Felicidade é uma reação química de duro impacto para mim, causa efeitos colaterais de enormes proporções até mesmo nas menores dosagens. O último estrago foi avassalador, oportuno e incurável. 


Ela chegou, fez casa e quando finalmente me dei conta já estava entregue às sensações bem decoradas e bem colocadas em seu devido lugar.


Agradável estado de letargia profunda, constante busca do nada, perfeita imperfeição. Sintomas da minha estimada invencibilidade. A cada dia, uma nova reza brava. Sob esse efeito, nada pode me machucar. Nada me abala, trinca ou racha.


Me transformei na minha própria heroína. 


Você até pode me injetar.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Reza brava

"Pai nosso que estais no céu bem longe daqui, santificado é o vosso nome, desconfio que por isso mesmo. Venha a nós o vosso reino, que não sabemos chegar até aí com toda nossa maldita inteligência. Seja feita vossa vontade assim na terra como no céu, que a gente sempre faz a vontade de alguém. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, pelo menos. Perdoai as nossas ofensas. Quem mais? Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, embora seja o mais difícil, pois não se controla a crueldade cega. Não nos deixeis cair em tentação, ai-ai-ai, e livrai-nos do mal que, a propósito, não é pouco..."


(Fernando Bonassi)




Amém.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Truth or Dare?

"You cry out in your sleep. All my failing exposed. And there's a taste in my mouth as desperation takes hold. Just that something so good just can't function no more?" - Love will tear us apart, Joy Division.


Ele diz que até dormir se tornou uma tarefa difícil, que não consegue parar de pensar. Faz-se presente através de toda e qualquer rede social a qual você possa pertencer, pra dizer amenidades como quando lembrou de você ao escutar aquela música ou para lembrá-la de como seus olhos ficam pequenos enquanto você sorri. Ressurge com delicadas recordações de momentos nos quais você ainda nem pertencia à sua vida. Entre pequenas brechas, o desgaste entre as soldas da armadura a torna cada vez mais penetrável. Existem inúmeras teorias sobre qual foi realmente a primeira vez em que seus caminhos se  cruzaram e sobre como tudo seria mais fácil se…


Verdade ou Desafio, uma verdade desafiadora ou um desafio verdadeiro?


Fui observada de uma forma incrivelmente arrebatadora, não deixando que me sobrasse espaço pra nenhum tipo de raciocínio lógico. Não faz sentido e talvez esse seja o sentido afinal. Não existem alternativas além da violenta vontade de mergulhar tão fundo quanto seu tímpano possa permitir, até que seus pulmões esvaziem-se por completo reivindicando por uma dose de ar puro novamente.


Você terá um infarto agudo do miocárdio muito em breve, tenha sempre à mão uma aspirina, se não começar a inspirar profunda e lentamente. Você sente corar-lhe a face e seu corpo passa a eliminar grandes quantidades de calor, a mão treme descontroladamente ao som da batida ansiosa dos seus pés no chão. 


Eu observava a tudo como um campo em chamas.


Mas estavam todos dormindo e eu não podia me fazer notar.


Desafio.



domingo, 4 de julho de 2010

Amadora

Há mais de um ano, uma pessoa disse que não tentaria me segurar com as mãos.


Bastava uma simples palavra que eu já o tinha entrelaçado nos meus dedos. Se excedesse a um segundo olhar, ele já estaria suspirando aos pés da minha cama.


Assim como uma simples palavra fazia-o ir embora.


Era uma constante busca pelo vazio completo de existir. 


O controle de uma relação tão limitada às dores e aos prazeres físicos era tão pequeno que em poucos dias, sumiu. Éramos só nós dois a partir de então, procurando a todo custo nos aproximar do que nos afastava. Estávamos expostos na raríssima hora em que não queríamos exposição. 


O mundo sabia mais de mim e dele do que nós mesmos.


E quem sempre iria embora mesmo? Já que não tentaria me segurar, ele apenas virou os olhos vermelhos e me disse adeus.

sábado, 3 de julho de 2010

I'm feeling supersonic

A vontade nunca foi a de ser uma unanimidade, aliás, deve ser entediante sê-la. Sempre fui um pouco audaciosa, um pouco diferente,  um pouco apontada, um pouco falada. Tantos poucos que, inevitavelmente, acabaram por me tornar também um pouco polêmica.                                                                                                                                                       
Existem vezes em que tenho o ímpeto de gritar mais alto contra aquilo que ouço, outras em que me restrinjo à mudez inconformada. Posso correr pra longe mesmo que respeitando a retidão das linhas, dos pensamentos, das crenças e não importa o esforço para não pisar fora do espaço tracejado, ninguém faz questão de admitir enxergá-lo. Aos olhos dos outros as atitudes são uma constante insuficiência, a assinatura dos documentos está sempre a passar da validade e cabe às palavras se perderem em algum lugar do espaço.


Sempre fui um pouco pré-julgada.


O esforço, a vontade ou o merecimento, pouco valem. A gente não consegue fugir do que é, nem do que disperta espontaneamente – ou não! – na sentença dos outros. Seja ela justa ou nem tanto. E sabe o que mais? O tempo ensina a lidar com essa circunstância e a matar a sede de querer mudá-la a qualquer custo.


Sou um divisor de águas. Duvido do dia em que entrarei em algum pedaço desse mundo e não irei me deparar com mais uma pequena fração dentre o grupo de 6 bilhões de habitantes que dividem a mesma opinião.


Mas eu? Eu sempre fui infinitamente mais exigente do que a banca julgadora.