quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Trivial parte 2

todos precisam de amigos fáceis
todos precisam de um ouvido pra emprestar
todos precisam se aproveitar
todo mundo sempre é pendurado pra secar
todos precisam de tempo
todos precisam pegar a senha
todo mundo precisa marcar um encontro com você

e ninguém faz idéia.


(8) about a girl - nirvana

"I do..."

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Trivial

Meus olhos castanho-escuros, estou alucinada pra te ver, te tocar, te cheirar de novo, e há mais o tesão do medo do terreno proibido do que qualquer outra coisa parecida com violentação, defloração, trangressão, estupro até - se você não quisesse, o que é absurdo, já que no fim as coisas sempre se repetem. Mas ainda relutamos porque parece que qualquer coisa raríssima vai se perder. Como uma porcelana que escorrega dos dedos e se estilhaça para sempre na dureza infinita do chão de cada um de nós.


Você me chama de maluca e pede histórias, mais histórias, sempre histórias, como alguém que nasceu aos quinze anos e perdeu todo o background de lobos, cordeirinhos, ursos, chapéus vermelhos, cantigas de ninar, crianças que se perdem na floresta e vão parar em jaulas de bruxas...Você não se importa de não entender minhas cartas: o que você quer é a música, os riffs, a sugestão, o que parece ser, o que você quer é esse sentimento espicaçado, um amor palavroso, tenso, marginal e meio louco que te dou. O que você quer é me ouvir porque sou a mágica que tira coelhos da cartola, e você é a criança encantada que acredita em mágica.

E eu só quero substituir a vida tosca por uma coleção infinita de histórias onde só acontece o melhor, porque só acontece o que a gente quer e o que a gente quer é não ter medo de nada.


Amanhã eu iria te contar qualquer coisa que já esqueci, porque não aprendi a falar.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

I couldn't say it before

He got a new haircut


I'm walking in new shoes...


Então eu ficarei aqui, olhando esse sorriso
com facas escondidas nas mãos
pra cegar qualquer um que tente te olhar
qualquer um que tente te ver
como eu te vejo.


então eu ficarei aqui.


Sinta vontade de ficar.







sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Declaração

Querido...
Estou guardando a minha para você. Você sabe o quê. Conversar..dançar...só flertar é que não conta. O que conta é quem possui uma. Você devia saber disso. Outros podem até querer, mas o único porém é que ela acha o seu jeito de chamegar muito bom. Não há quem a faça ronronar como você...Quando eu voltar, vou lhe beijar por uma hora antes de fazer qualquer outra coisa...Eu vou fazer aquela porra jorrar de você...Vou passar minha língua na ponta do seu e fazer cócegas. Não vou tocar pra valer, maldito. Eu vou provocá-lo tanto que você vai beijar a minha como nunca fez antes...Eu amo você, desgraçado. Eu quero ver aquele seu. Quero mordê-lo inteirinho de cima a baixo, dar um monte de mordidinhas que não machucam, só são gostosas. Eu vou beijar tanto aquilo. Até que você fique louco e perca completamente a noção do que é real e do que não é, e tenha que me forçar ou comece a gritar e arrancar os cabelos da cabeça. É, é o que eu vou fazer. Você vai ter que tornar real essa cena que tem na sua cabeça. Eu não vou beijar você. Eu NÃO vou beijar você. Você vai ter que me forçar...Se você conseguir. Seu Grande filho da puta. Se você estivesse comigo agora, eu ia te jogar em cima dessas ferrugens do quintal. Eu jogaria você no chão, subiria em cima e montaria em você até que tivesse areia, lascas de madeira, formigas e pedras coladas no seu rabo...Eu te amarraria nu em uma dessas malditas árvores e te amaria...


Te amaria para sempre...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Becoming dangerous

Eu sai do emprego de novo
e a polícia me parou
por passar um sinal vermelho somente com os pés no chão
minha mente estava longe
e eu fiquei em cima de umas folhas
tornozelos encobertos
e mantive a cabeça virada
para eles não sentirem o cheiro de embriaguez 
e peguei a multa, e fui para meu quarto
achei uma bela sinfonia no rádio
mas eu ainda estava só e com frio
e fiquei acendendo fósforos
e liguei a calefação
e lá no chão
vi uma foto minha antiga, toda pelo avesso
então fui lá, e a peguei
mas não era eu
porque o passado já era
e o presente é pura baunilha

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Importância

Você pode pegar suas tias e tios ricos
e avós e pais
e todo seu petróleo nojento
e seus lagos
e seus perus selvagens
e búfalos
e todo o Estado do Texas
e seus passeios noturnos de sábado
e sua biblioteca barata
e seus conselheiros desonestos
e seus artistas bichas...
você pode pegar tudo isso
o seu jornal semanal
e seus tornados,
e seus rios imundos
e todos os seus gatos
e sua assinatura da Time
e suma com eles, querido
suma com eles.

(Bukowski)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Peso

Precisamos de bolsos muito maiores, pensei ao deitar na cama, contando os sete minutos que uma pessoa leva em média para dormir. Precisamos de bolsos gigantescos, bolsos grandes o suficiente para nossas famílias, nossos amigos e até mesmo as pessoas que não estão em nossa lista, pessoas que nunca conhecemos mas ainda sim desejamos proteger. Precisamos de bolsos para distritos e cidades, um bolso que pudesse conter o universo.


Oito minutos e trinta e dois segundos…


Mas eu sabia que não podia haver bolsos tão gigantescos. No fim, todo mundo perde todo mundo. Nenhuma invenção poderia evitar isso, portanto me senti, naquela noite, como a tartaruga que tinha sobre si o resto do universo.


Vinte e um minutos e onze segundos… 

domingo, 22 de agosto de 2010

Eu sei.

Renato Russo sempre foi o mais próximo de agregar todas as minhas opiniões, sobre vários assuntos. As conexões que eu não tinha com ele, eu criei. Nas suas palavras eu guardo ou plagio as minhas. Mas discordamos em um único ponto quase primordial: sexo verbal faz meu estilo.

Como há quem nasce para o amor, quem nasce para a guerra, quem nasce para mudar e quem nasce para morrer, eu nasci para as palavras. É com certo orgulho que eu aprendo as novas e seus significados, é com certo ego que eu ostento elas. Despejo-as por aí, esperando quem vai parar e olhar, quem vai tentar entender. Às vezes encontro ouvintes. Outras vezes, encontro despejos. E aí, cabe a cada um cada palavra não-dita, mal-dita...

Sou hipócrita. Todos somos hipócritas. Maldita mania de seleção: às vezes sou ouvinte, quando deveria ser despejo. E vice-versa. Cobro a mais ou a menos do que deveria receber, mas sempre cobro. E acabo me fundindo com despejos existenciais, envolvida nas suas sobras, me divertindo com suas sujeiras mais profundas, seus membros físicos. 

Não é uma reclamação. Pessoas como eu ficam amargas se passam muito tempo sem ao menos algumas horas de sujeira. É mais do que prazeroso me deixar escoar sem medo, ver o que havia de mais duro dentro de mim virar líquido e escorrer pelos ralos de alguém. 

Com quem você quer falar por horas e horas e horas?

terça-feira, 27 de julho de 2010

Por onde andou?

Eu estive bem, obrigada. Vivendo, eu andei vivendo...


Seria exagero comparar felicidade pura e simples a um uso exagerado de analgésicos? Felicidade é uma reação química de duro impacto para mim, causa efeitos colaterais de enormes proporções até mesmo nas menores dosagens. O último estrago foi avassalador, oportuno e incurável. 


Ela chegou, fez casa e quando finalmente me dei conta já estava entregue às sensações bem decoradas e bem colocadas em seu devido lugar.


Agradável estado de letargia profunda, constante busca do nada, perfeita imperfeição. Sintomas da minha estimada invencibilidade. A cada dia, uma nova reza brava. Sob esse efeito, nada pode me machucar. Nada me abala, trinca ou racha.


Me transformei na minha própria heroína. 


Você até pode me injetar.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Reza brava

"Pai nosso que estais no céu bem longe daqui, santificado é o vosso nome, desconfio que por isso mesmo. Venha a nós o vosso reino, que não sabemos chegar até aí com toda nossa maldita inteligência. Seja feita vossa vontade assim na terra como no céu, que a gente sempre faz a vontade de alguém. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, pelo menos. Perdoai as nossas ofensas. Quem mais? Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, embora seja o mais difícil, pois não se controla a crueldade cega. Não nos deixeis cair em tentação, ai-ai-ai, e livrai-nos do mal que, a propósito, não é pouco..."


(Fernando Bonassi)




Amém.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Truth or Dare?

"You cry out in your sleep. All my failing exposed. And there's a taste in my mouth as desperation takes hold. Just that something so good just can't function no more?" - Love will tear us apart, Joy Division.


Ele diz que até dormir se tornou uma tarefa difícil, que não consegue parar de pensar. Faz-se presente através de toda e qualquer rede social a qual você possa pertencer, pra dizer amenidades como quando lembrou de você ao escutar aquela música ou para lembrá-la de como seus olhos ficam pequenos enquanto você sorri. Ressurge com delicadas recordações de momentos nos quais você ainda nem pertencia à sua vida. Entre pequenas brechas, o desgaste entre as soldas da armadura a torna cada vez mais penetrável. Existem inúmeras teorias sobre qual foi realmente a primeira vez em que seus caminhos se  cruzaram e sobre como tudo seria mais fácil se…


Verdade ou Desafio, uma verdade desafiadora ou um desafio verdadeiro?


Fui observada de uma forma incrivelmente arrebatadora, não deixando que me sobrasse espaço pra nenhum tipo de raciocínio lógico. Não faz sentido e talvez esse seja o sentido afinal. Não existem alternativas além da violenta vontade de mergulhar tão fundo quanto seu tímpano possa permitir, até que seus pulmões esvaziem-se por completo reivindicando por uma dose de ar puro novamente.


Você terá um infarto agudo do miocárdio muito em breve, tenha sempre à mão uma aspirina, se não começar a inspirar profunda e lentamente. Você sente corar-lhe a face e seu corpo passa a eliminar grandes quantidades de calor, a mão treme descontroladamente ao som da batida ansiosa dos seus pés no chão. 


Eu observava a tudo como um campo em chamas.


Mas estavam todos dormindo e eu não podia me fazer notar.


Desafio.



domingo, 4 de julho de 2010

Amadora

Há mais de um ano, uma pessoa disse que não tentaria me segurar com as mãos.


Bastava uma simples palavra que eu já o tinha entrelaçado nos meus dedos. Se excedesse a um segundo olhar, ele já estaria suspirando aos pés da minha cama.


Assim como uma simples palavra fazia-o ir embora.


Era uma constante busca pelo vazio completo de existir. 


O controle de uma relação tão limitada às dores e aos prazeres físicos era tão pequeno que em poucos dias, sumiu. Éramos só nós dois a partir de então, procurando a todo custo nos aproximar do que nos afastava. Estávamos expostos na raríssima hora em que não queríamos exposição. 


O mundo sabia mais de mim e dele do que nós mesmos.


E quem sempre iria embora mesmo? Já que não tentaria me segurar, ele apenas virou os olhos vermelhos e me disse adeus.

sábado, 3 de julho de 2010

I'm feeling supersonic

A vontade nunca foi a de ser uma unanimidade, aliás, deve ser entediante sê-la. Sempre fui um pouco audaciosa, um pouco diferente,  um pouco apontada, um pouco falada. Tantos poucos que, inevitavelmente, acabaram por me tornar também um pouco polêmica.                                                                                                                                                       
Existem vezes em que tenho o ímpeto de gritar mais alto contra aquilo que ouço, outras em que me restrinjo à mudez inconformada. Posso correr pra longe mesmo que respeitando a retidão das linhas, dos pensamentos, das crenças e não importa o esforço para não pisar fora do espaço tracejado, ninguém faz questão de admitir enxergá-lo. Aos olhos dos outros as atitudes são uma constante insuficiência, a assinatura dos documentos está sempre a passar da validade e cabe às palavras se perderem em algum lugar do espaço.


Sempre fui um pouco pré-julgada.


O esforço, a vontade ou o merecimento, pouco valem. A gente não consegue fugir do que é, nem do que disperta espontaneamente – ou não! – na sentença dos outros. Seja ela justa ou nem tanto. E sabe o que mais? O tempo ensina a lidar com essa circunstância e a matar a sede de querer mudá-la a qualquer custo.


Sou um divisor de águas. Duvido do dia em que entrarei em algum pedaço desse mundo e não irei me deparar com mais uma pequena fração dentre o grupo de 6 bilhões de habitantes que dividem a mesma opinião.


Mas eu? Eu sempre fui infinitamente mais exigente do que a banca julgadora.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Fotografias

Tenho várias fotos pregadas em um mural prata, que ganhei no meu aniversário de 17 anos. Nunca consegui achar algum mural que se adequasse à minha parede, e com este foi amor à primeira vista. Foi um dos presentes da vida que fizeram-me sentir a própria Charlotte Casiraghi, grandiosa tal qual uma princesa quando recebe sua coroa e junto dela todos os seus desejos. Para completar mais ainda a majestade, recebi este presente de dois príncipes.

Tenho fotos perdidas pelos cantos do meu quarto que não couberam no meu mural, o que me deixou bem frustrada. Tenho um apego tão forte com essas imagens impressas que chega a ser doentio. Tenho fotos na carteira, na escrivaninha, nos cadernos.

Aquelas em que os sorrisos mais se destacam para o fotógrafo, coloquei quase ao lado da cama. Às vezes entortam, às vezes um vento bate e derruba alguns ímãs, às vezes a poeira cobre os rostos. Às vezes elas amassam e se misturam com os papéis e os documentos, com os calendários, os rascunhos e os gabaritos.

Talvez devesse cuidar melhor delas, mas tenho que abrir e fechar a carteira para comprar as malditas coisas com as quais se leva a vida.

Também preciso apalpá-las por onde quer que eu vá e, ao dormir...bem, melhor não falar mais nada. Das duas uma: ou vocês me mandam fotos novas ou dão as caras por aqui.

Pensamentos de 5 minutos

Pensei que me tornaria cética, que teria preguiça, achei que fosse voltar a me fechar. Eu errei.


De páginas rasuradas, escritas com um milhão de cores, sou um livro aberto. Não sei arrancar uma só folha, o que não significa que algum dia eu volte a olhar o que me retrocede.


Sinto como se existissem trechos escritos em algum idioma arcaico que ninguém mais sabe ler. Tive receio que ninguém realmente quisesse sabê-lo.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Despejo

Às vezes acho que me fizeram capaz de sentir demais. E emanar demais o que é sentido, inclusive quando não faz sentido. E isso assusta, afugenta, por chamar atenção demais. Meus pensamentos são como um farol que não consegue se esconder na praia deserta. Ele sempre estará lá, ao alcance dos seus olhos, te impedindo de naufragar em mim. E não há nada capaz de me apagar.

Só queria, por meia-hora que fosse, me ver diluída no horizonte de uma noite qualquer. Uma dessas em que você vaga por aí sozinho, trocando pernas, balbuciando impropérios ao vento. E ter o que eu sinto invisível aos seus olhos. Por meia-hora que fosse, te fazer me querer sentir na meia-hora seguinte.

Essa intensidade indesejada de sentimentos atribui imenso valor até mesmo ao mais insuspeito dos seus sinais. E isso, às vezes, torna-se tão pesado a ponto me fazer preferir a sensação de ausência de peso inerente à queda à falsa-segurança da terra firme. Meus joelhos doem, cara, e é por essas e outras é que me atrai tanto o ensurdecedor silêncio do vento frio me cortando a pele. Pelo menos, enquanto caio, tenho certeza de que não me ouve.

Quase sempre eu penso que deveria parar de agir assim.

E eu não paro. Me para.

Traduções

“Não nos provoca riso o amor quando chega ao mais profundo de sua viagem, ao mais alto de seu vôo: no mais profundo, no mais alto, nos arranca gemidos e suspiros, vozes de dor, embora seja dor jubilosa, e pensando bem não há nada de estranho nisso, porque nascer é uma alegria que dói. Pequena morte, chamam na França, a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntar-nos, e perdendo-nos faz por nos encontrar e acabando conosco nos principia.Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce.”


O Livro dos Abraços, de Eduardo Galeano.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Julia Caputi

Eu gosto de homens. Tenho tesão por eles. Quero dizer, quantas mulheres eu já vi acariciando minhas pernas, apertando minha barriga, derrubando minha moral, me enlouquecendo (no bom e no mau sentido), alegrando minha sexta-feira, entristecendo meu sábado, mordendo minhas bochechas, me fazendo 
deitar em escadas de uma rua escura em uma noite de inverno, me fazendo andar pelas ruas de madrugada, me fazendo tomar chuva gripada, me dizendo 
que eu sou uma chata adorável, gostando de mim mesmo depois de saber que eu não era o que ele pensava ou tinha feito o que ele achava que eu não tinha? Confuso, não? Exatamente como eles...
Quero dizer, eu estou falando sobre os homens que eu conheci até agora. E quanto às coisas mais generalizadas, quantas mulheres eu já vi irritadas por uma falação que parece nunca ter fim, achando graça de tragédias, gostando de certas músicas, mijando em pé? Eu acho isso bárbaro. Eu acho que o homem da minha vida é o cara mais simples e, ao mesmo tempo, o mais estranhamente maravilhoso do mundo. 


E eu gosto de mulheres. Tenho tesão por elas. Quero dizer, quantos homens eu já vi me fazendo gostar de coisas bestas e/ou melosas, me fazendo rir de outras mulheres, me dizendo que eu fico melhor com alguma roupa que não tem simplesmente nada a ver comigo e quando experimento, descubro que cai bem mesmo, me dando bronca por causa das minhas frescuras, achando bonitinho quando eu escrevo coisas tristes, não se importando com a minha cara sem maquiagem, me achando linda sem necessariamente querer pegar em alguma parte minha, gostando de mim mesmo depois de saber que eu não era o que ela pensava ou tinha feito o que ela achava que eu não tinha? Confuso, eu sei. Quero dizer, eu estou falando sobre as mulheres que eu conheci até agora. E quanto às coisas mais generalizadas, quantos homens eu já vi me 
ligando só pra falar que acabou de fazer coisas como chorar e coisas assim, tristes por ser tratados como lixo pela Garota Mais Maravilhosa do Mundo pra 
eles ou não receber uma ligação no meio da semana da dita cuja e chorarem como crianças, ou virarem quase outras pessoas em alguns minutos de 
montagem pra Aquela Festa? Eu acho isso bárbaro. Eu acho que eu não vou ter só uma mulher da minha vida, vou ter várias, além de mim mesma. Admiro 
as mulheres profundamente, não só por ser uma.


E admiro os homens profundamente, não só por tudo que eu citei, mas por uma certa, digamos, vantagem: não ser um. Que dá vontade às vezes, dá, mas nessas horas  eu me satisfaço descobrindo cada vez mais o que eu puder deles e de sua essência, ou passando o tempo com um que eu realmente goste, ou simplesmente...escrevendo, como agora.


Eu sei que isso ficou gay, mas eu gosto de gays. tenho tesão por eles. de verdade!




*Relatos estritamente não-sexuais. Não gosto de nenhuma definição concreta. Não sou homossexual, bissexual e nem mesmo heterossexual. Apenas vivo! =)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Nunca os dois

A gente deixa de fazer, de sentir, de ser. Seja por altruismo, receio ou até mesmo por vaidade. 
Traçar limites dentro de relações é um comportamento quase que instintivo, não queremos nos machucar assim como não querermos ser a causa da ferida aberta no peito de quem se ama. 


Não de propósito.


Não mais tocar no assunto - foi o conteúdo da promessa feita à mim mesma.


Os olhos tentam ocultar qualquer sinal de insatisfação, mas nos traem enquanto fitam o chão de maneira obsessiva. Pecamos com o silêncio contido em uma expressão triste. Pesada. 
A nossa mente revela ter um poder masoquista inigualável e se diverte com a memória de toda e qualquer palavra já proferida.


Prometi. Pra não doer em mim, pra não te fazer repetir.


Continuo não entendendo.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Screaming


A coisa mais difícil que existe é tentar adaptar a vida em versos.

Hoje eu vejo que eu tive que ir muito longe pra não querer mais voltar:


São 2 da manhã e ela me liga porque ainda estou acordado: "Pode me ajudar a solucionar meu último erro? Eu não o amo, essa não tem sido minha melhor estação".


Por que você não pode sair dos trilhos?
Por que somos como carros em uma corrida?
Se a vida é só uma ampulheta que se move sem parar...

Ninguém consegue achar o botão de voltar ou recomeçar?

Em março, eu quase pude inventar o botão pause.

Em maio, ele foi quebrado à força.

Naquele dia, quis sentar-se com uma garrafa na mão

Ele não tem estado sóbrio desde outubro do ano passado.

4 da manhã, e eu ainda estou acordada, escrevendo mais uma vez

Se eu puser tudo em um papel não estará mais dentro de mim
Eu me sinto nua diante da multidão
Porque essas palavras são meu diário e ele está gritando
E eu sei que você vai usá-las do jeito que quiser.



terça-feira, 25 de maio de 2010

Direitos de um artigo

Estamos com fome de amor.


"Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão". Pretensiosamente digo que assino embaixo, sem dúvida alguma. Parem para notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias.

Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez micros e transparentes, danças e poses ginecológicas, chegam sozinhas e saem sozinhas.

Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos. Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dance", incrível. E não é só isso não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida?

(...)Tornamo-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós.

Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos Orkut, o número de comunidades como "Quero um amor para a vida toda", "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci para ser sozinho".

Unindo milhares, ou melhor, milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.

(...)Todo mundo quer ter alguém do seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega. Alô, gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, pague mico, saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo para ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais (estou muito brega!). Aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez você nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso à dois.

Quem disse que ser adulto é ser ranzinza, um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele. Dá para ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer para alguém: vamos ter bons e maus momentos e uma hora outra, um dos dois, ou quem sabe os dois, vão querer pular fora. Mas se eu não pedir que fique comigo, tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida."

(Arnaldo Jabor, 25/02/2010)


- Dedicado à Camila Harms, companheira de afeições, aflições e outros temas de utilidade prática, ou não.
- Dedicado à todas as pessoas que, assim como eu, absorvem a vida com um único propósito de dedicar, produzir, inventar e exalar amor.




sábado, 22 de maio de 2010

Desapego

"Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não consegurás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele(...)"

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Novo Mundo

Existe um lugar onde tudo funciona com um simples sopro de vida. Onde tudo é tão admirável que horas são precisas para se admirar todas as coisas, com uma decência exata. Onde respirar e expirar são fenômenos, cada manifestação de existência é singular e cada pessoa é um fato inédito.


Há igualdade em ser diferente e diferença em ser igual. Há pessoas que gostam de café e pessoas que não dispensam coca-cola no café-da-manhã. Pessoas que não receberam aulas de ortografia mas nasceram com a poesia correndo nas veias, e enchem folhas de caderno com grandes composições e palavras ilegíveis. Há quem acorde de manhã para correr e quem corre o dia inteiro. Não há apenas homens e homens, mulheres e mulheres, homens e mulheres, há seres inclassificáveis. Há quem pede beijos no meio da tarde e quem não perde por esperar. Há pessoas que não pensam em ninguém e amam o mundo inteiro. Há pessoas e Pessoas.


Aqui eu posso andar como uma andarilha, anotando minhas pequenas impressões de tudo. Posso andar entre os pais de família, donas-de-casa, operários das fábricas, politicamente corretos e todas essas categorias de humanos zumbis, que nenhum deles irá me machucar. Posso ser alguém completamente diferente durante uma ligação telefônica, que ninguém saberia a diferença. Posso salvar o dia sem temer as kriptonitas por aí. Posso encurtar caminhos, desmistificar a distância e fazer da saudade uma fonte de escape para voltar a hora que eu quiser. Estou em São Paulo, estou em Baltimore, estou em Santa Monica ou estou aqui no interior. E de repente, não estou mais em lugar nenhum.


Aqui onde eu não moro.
Aqui eu não existo.




Porra, vida. Quem te escreveu assim?

domingo, 9 de maio de 2010

Direitos de uma carta

A última carta:
"Querida Holly, 
 Eu não tenho muito tempo, não digo literalmente...É que você foi comprar sorvete e vai voltar logo! Mas tenho a impressão de que é a última carta porque só resta uma coisa pra dizer, não é para se lembrar sempre de mim ou comprar um abajur por causa disso, você pode se cuidar sem a minha ajuda, é para dizer como você mexeu comigo, como você me ajudou me amando, você fez de mim um homen, Holly, e por isso eu sou eternamente grato, literalmente. Se pode me prometer alguma coisa, prometa que sempre que se sentir triste ou insegura ou perder completamente a fé vai tentar olhar para si mesma com meus olhos. Obrigado pela honra de ter você como esposa, eu não tenho o que lamentar, tive muita sorte. Você foi a minha vida Holly, mas eu sou apenas um capítulo da sua. Haverá mais, eu prometo, portanto aqui vai o meu grande conselho: não tenha medo de se apaixonar de novo, fique atenta àquele sinal de que não haverá mais nada igual.
P.S. Eu sempre vou te amar."

(Filme - Ps: I Love You)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Insônia

Sonhando:


Me acorda de manhã pra dizer que vai embora
Levanta durante a noite pra sentir os pés no chão
Coloca as mãos no rosto para esconder os pensamentos
Se afasta de tudo pra tentar recuperar o juízo
Respira devagar pra não dizer que errou
Segura minha mão, mas não faça-a tremer
Solta seu último gemido sufocado
Escorre dentro de mim o seu gosto amargo
Conduz o movimento que enaltece a sensação
De estar aqui;
De te ter aqui;
De te ver assim...
Deita-se ao relento e me deixa procurar com as mãos
O lugar certo que te faz esquecer onde você está
Nunca quis mostrar ou nunca quis induzir?
O muito é muito pouco pra me fazer entender
Mas se destranquei as portas 
Entre sem bater


Quando o sono finalmente vem:


Roupas são fantasias para pessoas como nós
Cobertas pela alma densa, de verdades
Ainda espero te encontrar revestido apenas de sentimentos corpóreos
Ainda espero poder tocar em seus medos e desejos
Ainda espero poder comprar distinção
Ainda espero poder carregar essa vida...


(minha própria voz)
- Vou tentar dormir agora. Muita coisa pra fazer amanhã....


 Interrompida da minhas divagações e entreouvindo conversas em algum aposento ao lado, é sempre assim. À noite, facilmente meu corpo estará em meu quarto. Terrível é a vida de quem possui corpo e mente separados, como dois braços porém cada qual cumprindo uma função distinta
 Às vezes creio enlouquecer diante das impossibilidades. Controlo muitos impulsos, fortes o bastante para fazer uma pequena parte do mundo parar e, assim, passar a fazer sentido. Subjugo a vontade, já essencial, do dia em que nada mais precisará ser dito. Que te ouço dizer que vai embora, no amanhecer, e que me dá tempo e espaço pra fazê-lo voltar. Espaço nesse mundo, um universo que, senão eterno, é único.
 São tempos de fúria. Cada pedaço de mim pulsa constantemente, provoca palavras ditas, palavras escritas, insônia e orgasmos. Uma convulsão por dia, epilética antes de dormir e anêmica ao acordar.
 Ando a procurar por anestesia. Algo que adormeça todo o meu corpo e segure firmemente minha mão, minha boca e meus pensamentos, que me guarde dentro de mim mesma. Alguma anestesia imaginária porém bem localizada.
 Antes que eu me perca, antes que eu me perca de vista.





segunda-feira, 19 de abril de 2010

Direitos de uma canção


Se eu pudesse mostrar o que você me deu
Eu mandava embrulhar, chamaria de meu.
Melhor forma não há, pra guardar um amor.
Então preste atenção ou me compre uma flor
Vem, me faz um carinho, me toque mansinho,
Me conta um segredo, me enche de beijos.
Depois vai descansar, outra forma não há
Como eu te valorizo, eu te espero acordar.
Se eu ousar te contar o que eu sonhei.
Pode até engasgar, pagaria pra ver.
Melhor forma não há, pra provar meu amor
Eu te presto atenção, tento ser sua flor.
Vem, te faço um carinho, eu te toco mansinho,
Te conto um segredo, te encho de beijo.
Depois vou descansar, não vou te acompanhar.
Espero que entenda.
Vem, te faço um carinho, te toco mansinho,
Te conto um segredo ou te encho de beijo,
Depois vou descansar, não vou te acompanhar.
Espero que entenda e volte pra cá.

Te Valorizo - Tiê.





sábado, 17 de abril de 2010

Sobre os cinco sentidos

Pt. 5 - Final


 Relato de algumas horas atrás:


 Hoje acordei e senti o gosto de mudança.
 Passo a passo, me encaminhei para todos os cômodos da casa, em direção a um novo sentido de existência. Recém-saída de um sonho devastador, a realidade veio à tona assim que coloquei meus pés no chão. Como um dia qualquer, era um dia perfeito. Hoje eu poderia passear pela vida.
 Fui percebendo que tudo ganhara uma nova forma, uma nova viscosidade, uma nova causa. Rindo das minhas próprias tolices, perdendo o fôlego ao tentar manter a água dentro das mãos, desenhando em todas as paredes do banheiro impregnadas pelo vapor d'água. E então enrolava-me de qualquer jeito em uma toalha fina e deixava a frialdade da manhã cobrir minha nudez. Me joguei na cama, suspirando, exalando toda a tensão. Precisava me render ao dia que estava por vir. Perdida entre os diversos tecidos que se agarravam em mim, excitando-me com toda a estranheza de seres inanimados corresponderem aos meus desejos. Seguindo um mesmo ritmo: tocada, invadida, por dentro, por fora, invadida, mais profundamente e mais rápido...
 Era o efeito Trainspotting de viver.
 Excesso de mim mesma, transbordando por todos os poros. Cheguei ao ápice em questão de segundos. Havia passado por sensações intensas demais em um tempo de menos. Urgente era a necessidade de extravasar o que sou, que tenho fome de primeiras vezes. Eu havia chegado à estaca zero novamente, agora sim pronta para todo e qualquer embate.
 Rapidamente me vesti e saí de casa. Vento gélido e sol morno, meu clima preferido. Tempo bom, eu melhor. 
 Por todo o caminho fui ouvindo Interpol, "No I In Threesome", minha favorita. Um passo, dois, três. Threesome é um termo que designa todo tipo de relacionamento a três, sendo objetos, sentimentos, fatos, pessoas. Contava meus passos de três em três, cantando que "sozinhos podemos lutar, então apenas deixe-nos ser três esta noite". Muitas pessoas passaram por mim no caminho, me deixando com vontade delas. Sentia o gosto das "dades" descendo como água da cabeça aos pés: Vontades, saudades, felicidades, vontades, vontades...Lembrava das melhores partes de mim distribuídas pela cidade e o excesso de si mesmo já não era suficiente, queria algo mais para recordar. Uma mulher empunhando uma vassoura me fez lembrar da jovem senhora amiga dos ladrões do subúrbio. Uma criança andando de mãos dadas com a mãe me trouxe à cabeça o pequeno desenhista que marcava seus traços no mundo há apenas onze anos. Não pude deixar de sorrir. Não queria deixar de sentir aquilo.
 Em meus ouvidos a voz cantava exaustivamente: "So just let us be three tonight" e o threesome se repetia. Inevitavelmente, me lembrei dos olhos de um garoto que me ensinava a crescer, gigante, maior que as coisas à sua volta e melhor que qualquer definição de grandeza. Inevitavelmente, me lembrei do sorriso de um homem que me dera uma espada e me ensinava a lutar, melhor que qualquer definição de beleza, forte o bastante para segurar seu mundo na ponta dos dedos.
 As quatro pessoas mais importantes da minha vida, os quatro sentidos anteriores distribuídos em cada um. Eu, o quinto elemento, sou o gosto de descobri-los , de me incorporar a cada um de uma forma que encerre o ciclo.
 Era o efeito Trainspotting de viver e amar. Olhos abertos, pensamentos soltos, verdade nua e crua. Tudo uma questão de ouvir, ver, sentir, aspirar, degustar, todas experimentadas de uma só vez, só hoje. Um dia qualquer, um café meio frio, um clima agradável, desejos pulsando conforme as batidas do coração, meus segredos revelados. Um dia perfeito.
 Acordei e senti o gosto do presente.
 Quanto aos cinco sentidos, não terminarão por aqui. Ainda terei muitas páginas soltas, na linha do tempo...
 Saiba que o fim é só um começo.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sobre os cinco sentidos

Pt. 4 - Audição

"Agora eu era o herói, e o meu cavalo só falava inglês..."

 Ontem aconteceu a festa de comemoração do meu primeiro ano de vida. Simples e perfeita. Mesmo para quem a própria existência ainda era algo inédito, o brilho excessivo e as luzes fortes daquele dia foram algo incomparável a tudo até então. Como uma representação do nascimento, pessoas e mais pessoas vinham até a mim, sorriam extasiadas e diziam-me coisas completamente sem sentido: "Ela está tão linda, já é quase uma mocinha, é a cara da mãe, essa vai dar trabalho...". E eu respondia a tudo com um toque na face do indivíduo e um olhar de incompreensão. Poderiam falar o que quisessem, pois a falta de conhecimento das palavras me divertia mais que tudo. Eles eram simplesmente coisas gigantes que andavam, faziam gestos estranhos e idolatravam a minha presença, minha pequena presença e meu minúsculo tamanho físico, fatos que contradiziam a grandiosa ousadia e atrevimento para imitar, criar, pensar e agir, talvez um pouco inadequados para tão pouca idade. "É mal de Julia...", minha mãe dizia, se caso fosse questionada quanto a isso. Cheia de energia, tanto quanto o nome.
 Como o dia 16 de março era dedicado à mim, meus parentes achavam-se no direito de fazer o que queriam, comigo. Era um cuidado inocente e uma terrível tortura para mim. Meu primeiro castigo foi ter que estar vestida de princesa para aquele dia. Como uma boa imitadora, eu tinha talento para incorporar muitas coisas: super-heróis, peões, apresentadores de tv, atores, cantores sertanejos, lutadores de boxe, animais selvagens...tudo, menos princesas. Apesar de não saber descrever a sensação, eu me sentia travestida, irreconhecível. Já tinha visto nos lugares onde havia passado que princesas representavam o sonho de consumo das menininhas e tudo o que eu não queria ser: feitas de cera, sem expressão, robôs na eterna espera pelos príncipes e reinados perfeitos, tolas, patéticas. Era isso. A minha vontade era entrar no ritmo da música que tocava, ser o cowboy da noiva, enfrentar os batalhões, os alemães e seus canhões, mas a fantasia carecia de cuidado e carinho da minha parte. Aceitei-a, só daquela vez.
 Passeando pelo meu reinado particular, no caso a minha festa, conheci uma outra criança, um garoto que aparentava ser um pouco mais velho e agia de acordo. Isolado a um canto, parecendo um estranho no ninho, me encantei de imediato por aquele pequeno. O assunto surgiu espontâneamente, meio de qualquer jeito porém muito real, mais real do que qualquer barulho que até então fora escutado. Uma conversa banal por um motivo qualquer, um vocabulário raso devido as respectivas inexperiências retóricas, nossas expectativas perante o bolo e uma relação de igualdade muito forte em um período de tempo muito curto. 
 Passamos o resto da festa juntos, como duas crianças, como dois revolucionários lutando pela mesma ideologia, como dois anjos, como dois demônios, como uma coisa só. Brincando de se descobrir e descobrir um ao outro. Não teve voz que não comentasse a união da princesa e o plebeu, embora agíssemos como dois ogrinhos. 
 Ele se escondia e eu deveria achá-lo. Não, não fuja não, finja que agora eu era seu brinquedo, Chico cantava. Eu era seu pião, porém ele era meu bicho preferido. Esqueci completamente das outras crianças, ao perceber que não era nenhuma delas que eu estava procurando para brincar. Pela primeira vez, eu podia tocar na face de alguém e pronunciar alguma coisa, ir além dos meus limites. Ele não era o príncipe, pelo contrário, agia bem diferente de um. E aquilo era a condição perfeita para eu me render, no meu status de realeza rebelde.

"Vem, me dê a mão. A gente agora já não tinha medo. No tempo da maldade, acho que a gente nem tinha nascido..."

O tempo passou, rápido demais...A festa foi chegando ao fim, as luzes, o brilho, os balões, a fantasia. Ele estava partindo tão depressa quanto havia chegado. Eu, que nunca havia ou haveria de me dar o direito de ser uma princesa, vi minhas vestes serem carregadas junto com o pequeno, e pela primeira vez viver me pareceu ser uma estranha ilusão.

"Agora era fatal, que o faz-de-conta terminasse assim..."

Fui entender muito tempo depois que a princesa e o plebeu era uma denominação muito fraca para João e Maria. Porque, ao contrário do que foi cantado, João foi quem sumiu no mundo sem me avisar. Esqueci-o completamente, até que, muito anos depois e o estágio da mocinha já ter terminado, a história se repetiu. Volta a acontecer, e como revivendo a mais bela canção da minha infância, agora eu era uma louca a perguntar...O que é que a vida vai fazer de mim?

quarta-feira, 31 de março de 2010

Sobre os cinco sentidos

Pt. 3 - Tato. Ou Trauma.


 A partir daquele dia, meu nome era Satine. Ela era um clone para mim, era inacreditável que aquela fosse eu mesma, minha própria personalidade. Ao atingirmos os 16 anos, éramos iguais. A minha história e a história dela partiram do mesmo ponto em comum: o trauma.
 Foi o chão de batalha onde minhas decepções amorosas nasceram e cresceram. Onde comecei a me envolver com a auto-destruição, a falta de amor próprio e o abuso de mim mesma. O lugar onde me convenceram que o que eu via no espelho era a imagem cuspida de um monstro feioso. Onde conheci o homem baixinho, branquelo e ranzinza com olhos de raio X, que me despia com um simples olhar. O homem que estuporou as paredes baixas dos meus pensamentos por meses e meses e me deu de presente meu primeiro grande trauma - "a arte do sexo que você não quer", como eu chamo. Um homem sem caráter algum, que refletia as ações infiéis do pai em cada movimento. Que me ligava de madrugada e interrompia meu sono, sussurrando que gostaria de me ver, com uma hipocrisia sedutora.
 Eu, 16 anos. Ainda com o mesmo ritmo dos 14, com o mesmo sorriso e com todas as partes do corpo, externas e internas, intactas. Eu não me fazia de difícil, era praticamente uma criança - inexperiente e ingênua, sonhando com o perigo e com a sensação adictiva de fazer algo ilícito.  Foi quando ele entrou na minha vida, para me estraçalhar como um cachorro raivoso. Porque ele era isso e mais nada - um animal com raiva.
 Nosso primeiro beijo aconteceu antes de qualquer palavra ser pronunciada por nossas bocas, e as mãos nos meus seios vieram antes da língua. Foi terrível e agressivo, mas me senti desejada. Ele era mais velho, me cobiçava e fazia com que eu me sentisse no mínimo bonita, quando havia crescido com o apelido de "besouro" no meu antigo bairro. Naquele momento eu descobri que um beijo não iria pará-lo, que ele não iria desistir enquanto não me possuísse barbaramente e por fim conseguisse dilacerar toda pureza que ainda restava. Era o que eu chamava de síndrome de rei, tinha tudo o que queria bem na palma da sua mão.
 Como um devido monstro, ele estava com um gosto repugnante na boca naquele dia. Eu queria vomitar aquele gosto e o arrependimento irredutível que havia dentro de mim. Suas mãos dentro da minha calça me machucavam, não me davam prazer. Ele não era porra nenhuma, mas eu continuava, pois era uma história para o besouro contar. Eu não tinha mais o que fazer.
 Era um quarto desconhecido, da casa de uma colega ainda mais desconhecida, em uma festa da qual eu não havia sido convidada. Todos os sinais indicavam que não era para eu estar lá. Eu precisava ir ao banheiro, estava bêbada e tonta, só querendo dizer que era o fim da festa para mim e afundar em minha cama para dormir eternamente. Ele levou-me para o quarto da anfitriã, mordendo os lábios inferiores, enquanto a minha maior vontade era pedir para que ele me soltasse e seguisse seu caminho direto para o inferno. Mas eu não conseguia dizer nada. Besouro abaixou as asas.
 Sentei na escrivaninha do quarto procurando me controlar, procurando amenizar minha tontura, quando ele veio em minha direção. Eu estava consciente, porém molenga e nauseada. Seus lábios finos se aproximaram e me arrancaram um beijo indesejado. Olhei para ele como se não estivesse lá, através do seu corpo, procurando bloquear sua imagem, procurando expulsar sua presença por telepatia. Ele me pegou com vigor pelos braços e me jogou na cama. Encarando o teto, pude ver as estrelinhas que brilhavam no escuro, grudadas. Eu costumava fazer pedidos a elas com espírito de criança intocada que não conhece o mundo. Ele estava em cima de mim e eu queria que ele saísse. Tentei empurrá-lo, mas não consegui, não tinha forças e ele segurava meus braços com uma única mão. Parei de reagir e olhei nos seus olhos:
 - Pára, eu não quero!
 - Não fala nada. Relaxa. Vai dar tudo certo.
 - Não, por favor, eu não quero, tô falando sério!
 Naquele momento eu faria qualquer coisa, menos relaxar. Via seus poros oleosos perto demais e suas espinhas pareciam ter se multiplicado. Pareciam estar prontas para explodir e jogar pus nos meus olhos. Tentava afastá-lo a qualquer custo. Mexia-me de um lado para o outro neuroticamente pedindo para ele parar. Gritando que o odiava. Mexia-me de maneira tão brusca que acabei batendo com a cabeça na mesinha-de-cabeceira. Machucou e eu fiquei ainda mais tonta. Virei para o lado e vi uma foto embaçada de uma criança, sorrindo e abraçando a mãe. Sentia nojo de mim mesma deitada em sua cama, em seu cobertor de flores, no seu quarto de paredes rosa-forte. Completamente presa, finalmente me rendi, finalmente me deixei morrer. Fechei os olhos e o deixei me conduzir freneticamente durante vários minutos de dor insuportável. Quando acabou e parou de soltar seu gemido repugnante, se jogou ao meu lado. Então, eu finalmente consegui empurrá-lo.
 - Agora você vai embora, não é? - perguntei, e uma voz estranha saiu da minha garganta. Trêmula, segurei as lágrimas e esperei a tempestade acalmar.
 - Ih, que isso, quer que eu vá embora eu vou...
 - Não estou te mandando embora, apenas sei que vai. É o que sempre faz.
 Ele levantou, vestiu sua bermuda e olhou para minha figura com um ar zombeteiro. Deu uma risadinha sarcástica e saiu do quarto arranhando o chão, sem dizer mais nada.
 Vesti-me rapidamente, corri ao banheiro e olhei no espelho. Eu não conseguia acreditar que aquilo era eu. Eu sentia tanta dor! Aquele momento iria fazer quem eu viria a ser? 
 Corri para fora da festa, alguém me seguiu, condoído pelo meu estado de calamidade. Esse alguém me trouxe para casa, me sugerindo mentiras para contar à minha mãe, algumas das quais eu acabei realmente usando, sem opção nenhuma de roçar nela minha dor. A noite estava perdida para sempre, para afogar minha alma em sensações de culpa. Besouro esmagado.
 No dia seguinte acordei e fui direto ao banho, onde percebi que a calcinha branca estava coberta de sangue. Era sábado e chovia forte, o céu parecia chorar em lamento. Passei horas debaixo de um chuveiro de água fria, chorando e sussurrando.
 Lavando minha pele, esperando que expulsasse o pecado latejante de dentro de mim.
 "Rogai por nós, pecadores...
 Esperando que minha vergonha fosse carregada ralo abaixo e se juntasse à podridão dos esgotos.
 ...agora e na hora de nossa morte...
 Parecia estar ardendo de febre, imóvel sob uma água congelada, desejando não estar viva.
 ...amém."



terça-feira, 23 de março de 2010

Sobre os cinco sentidos

Pt. 2 - Olfato


Hoje eu pude vê-lo. Claramente, sem maiores ou menores obstáculos. Tentei enxergar através de sua alma, mas a intuição me disse para esperar por todas 
as cinco etapas passarem para finalmente tê-lo dentro de mim, como um organismo vivo que parasitasse todas as outras funções. Subi no telhado de sua casa, pisando devagar e escorregando ligeiramente entre as telhas soltas. Uma resma do sol poente brilhava no horizonte, descendo devagar, escurecendo aos poucos, deixando o ar mais gélido enquanto a escuridão me abraçava. Ele estava lá, jogado ao relento, se dormia eu não saberia dizer. Os olhos fechados, a boca semi-aberta, os braços cruzados no peito.
Deitei ao seu lado tentando não despertá-lo desse transe, mal ousando respirar. O efeito da bebida era instantâneo, mas o desejo de me manter sóbria para poder admirá-lo era maior. Ele exalava a Stella Artois, seu perfume típico, e mais alguma fragância que eu não saberia descrever. Era única, era humana, era a minha fonte de escape do mundo real para dentro do mundo dele. Aqueles cheiros e as sensações que eles me causavam me empurravam para mais perto do seu corpo, ainda tentando não tocá-lo, me parando a milímetros de distância. Era uma onda que me cobria o corpo, e mais um pouco eu poderia me afogar. Encostei em seu rosto, me entorpecendo de vez, sentindo, sentindo, sentindo..
Sussurei. 
'" 'Cause you're beautiful in every single way..."
"Andou ouvindo Christina Aguilera?" - Abri os olhos e vi outros dois me encarando, castanho-escuros, me pedindo para devorá-los.
"Eu estava pensando em Elvis Costello"
"Ah..." - ele voltou os olhos para o céu, e sorriu. - "Continue."
"Continuo sussurrando ou olhando para você?"
"Os dois. São mais excitantes juntos."
Pensei: sim, igual a eu e você. Só os dois. Como se não existissem um sem o outro.
"Words can't bring you down..." 
Eu deveria cantar para meu espelho. Ele não precisava de reafirmação. Ele sabia que nada poderia derrubá-lo, principalmente enquanto eu estivesse
viva para poder segurá-lo.
"...so don't you bring me down today."
Mas eu não. Eu poderia cair daquele telhado naquele exato momento, se sua presença não estivesse lá pra me impedir. Então, não me deixe pra baixo..eu pedia, naquela canção.
"Olhe aqui..." 
Abri os olhos. Ele estava mais uma vez me olhando. A boca ainda semi-aberta, embriagada, procurando pela minha. Sentia, pela primeira vez, um hálito
forte como nada existente, como nenhuma bebida qualquer. Ali estava minha redenção, a razão de eu estar sempre ao seu lado, insistindo em silêncio
por um momento só meu, só dele e só meu.
Talvez eu ainda fosse muito ingênua. Mesmo sendo realidade, era quase uma réplica dos meus sonhos. Não tive coragem de tocá-lo, permaneci estática, 
inalando toda aquela tensão, com medo de tudo evaporar se caso eu me movimentasse. Bem de longe, ouvi ele dizer:
"Não posso fazer isso. Não agora."
Não. Não diga isso. Don't you bring me down today..
"Mas isso não quer dizer que eu não quero fazer. Apenas..vamos nos levantar. Vamos acordar. Eu te prometo voltar aqui algum dia."
Vai voltar, vai voltar...
"Só espere, um pouco."

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sobre os cinco sentidos

Pt. 1 - Visão

Por causa da forte chuva que caía naquela madrugada, tive que acabar com meus últimos centavos pegando um táxi. Um repentino mau-humor tomou conta de mim, não saberia dizer se mais pela falha nos meus planos de passar a noite vagando pelas ruas, tentando arrumar o juízo em forma de ser humano para me salvar, se pela falta de responsabilidade ou de uma Stella Artois. Desliguei o celular e esperava que as pessoas pensassem que eu estava tão perdida quanto às chamadas que faziam para mim. Na realidade, eu não estava...Sabia exatamente onde eu queria chegar, o problema era como chegar. Perguntei ao taxista, um homem rude e sem feições, se havia formas de pegar uma rota mais econômica ou até que ponto eu gastaria para chegar ao mais próximo do inferno. Ele me encarou pelo retrovisor e vi um brilho ameaçador nos seus olhos.
"Por que não me disse antes que não tinha para onde ir, menina?"
Mandei parar ali mesmo. O perigo era iminente, e eu não estava afim de brincar de Chapeuzinho Vermelho com o Lobo Mau. Melhor seria ficar no bosque, correndo involuntariamente o risco de encontrar monstros piores.
Andei sem saber bem pra onde, deixando minhas pernas me levarem, por um bom tempo. Elas pareciam saber onde ir. Fui contando os blocos de cimento pelo caminho, tentando regular as passadas e não parecer tão fora de mim. Mas não adiantou. Quando dei por mim, estava no mesmo lugar, com a respiração ofegante, sem forças pra continuar. Estava às portas da casa dele, e em meio a um silêncio sepulcral, pude até mesmo ouvir seu coração bater. 
Certamente o meu pode ser ouvido também, pois como se os dois batessem em um mesmo ritmo inflexível, ele apareceu à janela. Os cabelos grandes bagunçados, um sorriso brincando em seus lábios, a pergunta de sempre fluindo pelos olhos
"Por que você voltou?"
Eu disse que não era nada. Era só pra ver se eu saberia como voltar, se caso um dia ele precisasse de mim. Devia estar em um estado deplorável, pois ele abriu a porta e as mãos que me agarraram eram armas prontas para a destruição total. E se eu estivesse bem, aquilo jamais aconteceria.
Suas mãos me levaram para dentro, eu passei entre as paredes olhando tudo como se não estivesse visto aquele lugar muitas e muitas vezes. A vez anterior, e a anterior da anterior, eu tinha jurado que eram as últimas. Como uma luz fraca no meio da minha escuridão interior, reuni forças pra cumprir meu juramento e me virei para ir embora para sempre. Ele me segurou com o olhar, sabia perfeitamente usá-lo contra mim, sabia exatamente onde era a chave para os meus segredos...Fui jogada contra a parede, o celular caiu no chão e se espatifou. Eu estava me perdendo, finalmente.
Ao bater com a cabeça, tudo ficou ainda mais turvo do que já estava, e tudo que eu conseguia ver eram imagens distorcidas, que se confundiam com o que eu já tinha feito e com o que eu estava prestes a fazer. Sabia que minhas roupas estavam sendo rasgadas pouco a pouco, que naquele momento nada poderia ser mais prazeroso que isso para ele, tinha consciência que ele sussurrava em meu ouvido, sentia suas mãos apertando meus seios e um arrepio de desespero percorreu-me a espinha como um pavio em chamas. Era sempre uma batalha perdida, eu me deixaria invadir completamente, vestida apenas com minha máscara da fraqueza.
Fechei os olhos. Vi sua boca percorrendo meu corpo em todos os lugares, como se não os tivesse explorado o bastante. Lá fora, nem mesmo os postes de luz estavam acesos. O mundo queria me deixar cega perante minha própria perdição, se para me poupar ou para me castigar...não sei.
"Você é tão linda, você é tão linda..Eu poderia ficar aqui, te sentindo, para sempre..."
Quantas vezes ele iria repetir?
"Mas você nem mesmo me enxerga."
"Eu estou aqui com você, você está aqui comigo. Isso basta."
Então, aquela noite eu era sua. Não, ele nem mesmo me enxergava. Nós sequer falávamos a mesma língua. Eu queria sair, sumir, me transformar em pó entre seus braços, e ele dizia que eu queria ficar. Tentando me convencer a acreditar...Me apertou ainda mais, e eu senti, como se um tiro tivesse atingido o cérebro, um apagão fulminante na minha consciência, minhas sinapses queimando terrivelmente e nada mais ser processado, apenas um desejo maníaco de possuí-lo até a alma. Não precisava de muito para me despertar os instintos mais primitivos e selvagens, era apenas provar um pouco de dor que o efeito era instantâneo. A dor.
Como se os papéis estivessem invertidos, peguei sua mão e a conduzi do começo ao fim. Pude até senti-lo tremer ligeiramente. Levei-a até entre minhas pernas, e o que ouvi era uma voz que até então não estava tão exasperada:
"Ei, é você mesma?"
Medroso.
"Talvez. Quem você acha?"
"Mas..o que você está fazendo?" 
Sublinhe a palavra você. Aquilo realmente estava ficando bom. Pela primeira vez, era eu quem estava no comando do jogo.
"Nada. Apenas tentando descobrir a graça de ter seu dedo em meu clitóris. Nada de estranho"
"Nossa. Por que não me disse que estava olhando? Porque não me avisou que não estava com medo?"
"Mas eu não estou com medo. Isso sim é estranho. "
Fazia movimentos aleatórios enquanto dizia. Se não soubesse como brincar, talvez teria um orgasmo ali mesmo.
"Você está me vendo agora?"
"Não. No escuro eu enxergo melhor."