quarta-feira, 18 de maio de 2016

a queda do céu

cheguei com olhos vermelhos
de fumar e de chorar
queria quebrar uns dedos
e continuar a rodar
sua cadeira é aquela moça bonita
que te ama e nao te deixa andar
seríamos ótimos assassinos
se não tivéssemos histórias pra contar
você sobre a preguiça da morte
e eu sobre a culpa de dançar
desde cedo exibida, tava pedindo pra se danar

você com tantas bundas na sua altura pra apertar
eu com vontade de pisar na armadilha e girar
talvez eu seja uma puta violenta
tentando não se manifestar
as palavras não surtem mais efeito quando o sangue pára de bombear
estamos mortos
como os índios
nus
reconhecemos

o branco era uma cor que não existia no Brasil
só no céu, só nas aves, só em tudo que estava além
hoje eu vesti essa cor em sinal de guerra
o juízo que me deram só serviu pra me fazer vomitar
não vou tirar os dentes do siso
ainda tenho muito o que errar

eu que até saí pelada
sou a que mais respeita a família
você só respeita o que não tem
só admira quem não conhece
mas pode me incluir na sua prece

laroyê bará

sexta-feira, 29 de abril de 2016

apenas mais um hino de faculdade

eu lambo tanto a dor
pra poder morrer em paz
a causa descoberta
em dois minutos ou mais
ao contrário de você
que morre sem perceber
e não é que a gente é igual?
tudo meio irracional
a dor no peito começa
já no pré-natal
criança traumatizada
você nunca vai ser nada
baleada, esfaqueada
esquartejada, atropelada
afogada e queimada
ou só meio retardada

sábado, 9 de abril de 2016

Genesis

Eu não trabalho tanto quanto minha mãe queria
Porque não tenho vocação nem pra ser sua filha
Que dirá orgulho da sociedade
As mulheres de casa são condenadas ao abate
Eu botei a boca no mundo
Desde quando nasci à parte
O clássico rebento fora do casamento
Sem pai, mas com Caputi no documento
Bebi o leite seco da minha vó
Em pleno horário de expediente
Ela faxinando escola
Eu deixando vizinha contente
Cabelo enrolado e boca sem dente
Não conheci meu avô
Mas somos muito parecidos
Queimados de sol e vagabundos andarilhos
Talvez morrerei cedo
E com ele poderei conversar
Raul, velho maldito, deixou minha vó
Pra depois ela te cuidar
Ela ainda guarda sua foto na carteira
E eu sua imagem no caixão
Com cinco anos perdi você
Mas ganhei um irmão
João, o apóstolo mais bonito
Segue sua sina, vai pra igreja
O único homem que ainda vai reunir a gente à mesa

quarta-feira, 2 de março de 2016

outra vez

transmuto a vida na escrita que me vem
quando os momentos de despedida se tornam mais fortes
chorar demais é amuleto da sorte
quando todos os outros mecanismos de defesa falham
e quando entope os encanamentos
a água parada dá doença
a água parada dá tragédia
os momentos que vivi não são para se contar
o que sai da mente não é para se controlar
controlados estamos
descontrolados somos
eu queria escrever uma carta de alforria
edição anos dois mil
neste dia neste horário, neste momento exato
eu liberto os demônios
que não são tão maus assim
a humanidade
já está mesmo no fim
confie nas divindades
enquanto elas estão aqui

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

coisa rápida

as mulheres se exercitam
se limitam
se deliciam
se excitam
com quitudes cheios de dor e delícia
não contém glutén, só muita malícia


mas os homens
eles sim
se derretem feito tinta guache
estão sempre prontos pro abate
derrotados por joelhos brancos à mostra
dedos engordurados
de tanto serem esfregados

o mundo corpo-ativo
é assim
a humanidade já tá mesmo no fim

não passo muito tempo no mesmo lugar
sem levar algumas marcas mentais
anote aí nos anais
eu voltarei

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

feliz ano novo

queria muito trombar com sobral na pau
lista
de desejos
pra doismiledezesseis
eu terei vinte e três
e vou começar tudo outra vez
quem sabe esse negócio torto e feio
se apaixonar
sem amar
seja o combustível para me fazer funcionar
porque o amor não é descoberta
é plena observação
é cultivar o que se preza independente da mutação
e eu já sei amar sim
descobri que ganhei o amor quando o perdi
eu quis entrar só depois que já saí

sábado, 14 de novembro de 2015

sobral

ah, se eu pudesse..

cantar as músicas do gil
mandar os valores cristãos pra puta que pariu
subir novamente no quarto 517
te ouvir contar histórias da ivete
se eu fosse menos apegada a momentos
doeria menos
e eu curtiria mais
me deixa em paz
passarinho
de barba
te dou carinho
de graça
não te quero
não te espero
não te venero
só te vejo
passar
por mim
ninho
em mim
de novo


"eu vou indo eu vou
evoluindo estou
eu vou indo embora
indo agora estou
embora ainda esteja aqui"