quarta-feira, 30 de junho de 2010

Fotografias

Tenho várias fotos pregadas em um mural prata, que ganhei no meu aniversário de 17 anos. Nunca consegui achar algum mural que se adequasse à minha parede, e com este foi amor à primeira vista. Foi um dos presentes da vida que fizeram-me sentir a própria Charlotte Casiraghi, grandiosa tal qual uma princesa quando recebe sua coroa e junto dela todos os seus desejos. Para completar mais ainda a majestade, recebi este presente de dois príncipes.

Tenho fotos perdidas pelos cantos do meu quarto que não couberam no meu mural, o que me deixou bem frustrada. Tenho um apego tão forte com essas imagens impressas que chega a ser doentio. Tenho fotos na carteira, na escrivaninha, nos cadernos.

Aquelas em que os sorrisos mais se destacam para o fotógrafo, coloquei quase ao lado da cama. Às vezes entortam, às vezes um vento bate e derruba alguns ímãs, às vezes a poeira cobre os rostos. Às vezes elas amassam e se misturam com os papéis e os documentos, com os calendários, os rascunhos e os gabaritos.

Talvez devesse cuidar melhor delas, mas tenho que abrir e fechar a carteira para comprar as malditas coisas com as quais se leva a vida.

Também preciso apalpá-las por onde quer que eu vá e, ao dormir...bem, melhor não falar mais nada. Das duas uma: ou vocês me mandam fotos novas ou dão as caras por aqui.

Pensamentos de 5 minutos

Pensei que me tornaria cética, que teria preguiça, achei que fosse voltar a me fechar. Eu errei.


De páginas rasuradas, escritas com um milhão de cores, sou um livro aberto. Não sei arrancar uma só folha, o que não significa que algum dia eu volte a olhar o que me retrocede.


Sinto como se existissem trechos escritos em algum idioma arcaico que ninguém mais sabe ler. Tive receio que ninguém realmente quisesse sabê-lo.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Despejo

Às vezes acho que me fizeram capaz de sentir demais. E emanar demais o que é sentido, inclusive quando não faz sentido. E isso assusta, afugenta, por chamar atenção demais. Meus pensamentos são como um farol que não consegue se esconder na praia deserta. Ele sempre estará lá, ao alcance dos seus olhos, te impedindo de naufragar em mim. E não há nada capaz de me apagar.

Só queria, por meia-hora que fosse, me ver diluída no horizonte de uma noite qualquer. Uma dessas em que você vaga por aí sozinho, trocando pernas, balbuciando impropérios ao vento. E ter o que eu sinto invisível aos seus olhos. Por meia-hora que fosse, te fazer me querer sentir na meia-hora seguinte.

Essa intensidade indesejada de sentimentos atribui imenso valor até mesmo ao mais insuspeito dos seus sinais. E isso, às vezes, torna-se tão pesado a ponto me fazer preferir a sensação de ausência de peso inerente à queda à falsa-segurança da terra firme. Meus joelhos doem, cara, e é por essas e outras é que me atrai tanto o ensurdecedor silêncio do vento frio me cortando a pele. Pelo menos, enquanto caio, tenho certeza de que não me ouve.

Quase sempre eu penso que deveria parar de agir assim.

E eu não paro. Me para.

Traduções

“Não nos provoca riso o amor quando chega ao mais profundo de sua viagem, ao mais alto de seu vôo: no mais profundo, no mais alto, nos arranca gemidos e suspiros, vozes de dor, embora seja dor jubilosa, e pensando bem não há nada de estranho nisso, porque nascer é uma alegria que dói. Pequena morte, chamam na França, a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntar-nos, e perdendo-nos faz por nos encontrar e acabando conosco nos principia.Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce.”


O Livro dos Abraços, de Eduardo Galeano.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Julia Caputi

Eu gosto de homens. Tenho tesão por eles. Quero dizer, quantas mulheres eu já vi acariciando minhas pernas, apertando minha barriga, derrubando minha moral, me enlouquecendo (no bom e no mau sentido), alegrando minha sexta-feira, entristecendo meu sábado, mordendo minhas bochechas, me fazendo 
deitar em escadas de uma rua escura em uma noite de inverno, me fazendo andar pelas ruas de madrugada, me fazendo tomar chuva gripada, me dizendo 
que eu sou uma chata adorável, gostando de mim mesmo depois de saber que eu não era o que ele pensava ou tinha feito o que ele achava que eu não tinha? Confuso, não? Exatamente como eles...
Quero dizer, eu estou falando sobre os homens que eu conheci até agora. E quanto às coisas mais generalizadas, quantas mulheres eu já vi irritadas por uma falação que parece nunca ter fim, achando graça de tragédias, gostando de certas músicas, mijando em pé? Eu acho isso bárbaro. Eu acho que o homem da minha vida é o cara mais simples e, ao mesmo tempo, o mais estranhamente maravilhoso do mundo. 


E eu gosto de mulheres. Tenho tesão por elas. Quero dizer, quantos homens eu já vi me fazendo gostar de coisas bestas e/ou melosas, me fazendo rir de outras mulheres, me dizendo que eu fico melhor com alguma roupa que não tem simplesmente nada a ver comigo e quando experimento, descubro que cai bem mesmo, me dando bronca por causa das minhas frescuras, achando bonitinho quando eu escrevo coisas tristes, não se importando com a minha cara sem maquiagem, me achando linda sem necessariamente querer pegar em alguma parte minha, gostando de mim mesmo depois de saber que eu não era o que ela pensava ou tinha feito o que ela achava que eu não tinha? Confuso, eu sei. Quero dizer, eu estou falando sobre as mulheres que eu conheci até agora. E quanto às coisas mais generalizadas, quantos homens eu já vi me 
ligando só pra falar que acabou de fazer coisas como chorar e coisas assim, tristes por ser tratados como lixo pela Garota Mais Maravilhosa do Mundo pra 
eles ou não receber uma ligação no meio da semana da dita cuja e chorarem como crianças, ou virarem quase outras pessoas em alguns minutos de 
montagem pra Aquela Festa? Eu acho isso bárbaro. Eu acho que eu não vou ter só uma mulher da minha vida, vou ter várias, além de mim mesma. Admiro 
as mulheres profundamente, não só por ser uma.


E admiro os homens profundamente, não só por tudo que eu citei, mas por uma certa, digamos, vantagem: não ser um. Que dá vontade às vezes, dá, mas nessas horas  eu me satisfaço descobrindo cada vez mais o que eu puder deles e de sua essência, ou passando o tempo com um que eu realmente goste, ou simplesmente...escrevendo, como agora.


Eu sei que isso ficou gay, mas eu gosto de gays. tenho tesão por eles. de verdade!




*Relatos estritamente não-sexuais. Não gosto de nenhuma definição concreta. Não sou homossexual, bissexual e nem mesmo heterossexual. Apenas vivo! =)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Nunca os dois

A gente deixa de fazer, de sentir, de ser. Seja por altruismo, receio ou até mesmo por vaidade. 
Traçar limites dentro de relações é um comportamento quase que instintivo, não queremos nos machucar assim como não querermos ser a causa da ferida aberta no peito de quem se ama. 


Não de propósito.


Não mais tocar no assunto - foi o conteúdo da promessa feita à mim mesma.


Os olhos tentam ocultar qualquer sinal de insatisfação, mas nos traem enquanto fitam o chão de maneira obsessiva. Pecamos com o silêncio contido em uma expressão triste. Pesada. 
A nossa mente revela ter um poder masoquista inigualável e se diverte com a memória de toda e qualquer palavra já proferida.


Prometi. Pra não doer em mim, pra não te fazer repetir.


Continuo não entendendo.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Screaming


A coisa mais difícil que existe é tentar adaptar a vida em versos.

Hoje eu vejo que eu tive que ir muito longe pra não querer mais voltar:


São 2 da manhã e ela me liga porque ainda estou acordado: "Pode me ajudar a solucionar meu último erro? Eu não o amo, essa não tem sido minha melhor estação".


Por que você não pode sair dos trilhos?
Por que somos como carros em uma corrida?
Se a vida é só uma ampulheta que se move sem parar...

Ninguém consegue achar o botão de voltar ou recomeçar?

Em março, eu quase pude inventar o botão pause.

Em maio, ele foi quebrado à força.

Naquele dia, quis sentar-se com uma garrafa na mão

Ele não tem estado sóbrio desde outubro do ano passado.

4 da manhã, e eu ainda estou acordada, escrevendo mais uma vez

Se eu puser tudo em um papel não estará mais dentro de mim
Eu me sinto nua diante da multidão
Porque essas palavras são meu diário e ele está gritando
E eu sei que você vai usá-las do jeito que quiser.