terça-feira, 29 de junho de 2010

Despejo

Às vezes acho que me fizeram capaz de sentir demais. E emanar demais o que é sentido, inclusive quando não faz sentido. E isso assusta, afugenta, por chamar atenção demais. Meus pensamentos são como um farol que não consegue se esconder na praia deserta. Ele sempre estará lá, ao alcance dos seus olhos, te impedindo de naufragar em mim. E não há nada capaz de me apagar.

Só queria, por meia-hora que fosse, me ver diluída no horizonte de uma noite qualquer. Uma dessas em que você vaga por aí sozinho, trocando pernas, balbuciando impropérios ao vento. E ter o que eu sinto invisível aos seus olhos. Por meia-hora que fosse, te fazer me querer sentir na meia-hora seguinte.

Essa intensidade indesejada de sentimentos atribui imenso valor até mesmo ao mais insuspeito dos seus sinais. E isso, às vezes, torna-se tão pesado a ponto me fazer preferir a sensação de ausência de peso inerente à queda à falsa-segurança da terra firme. Meus joelhos doem, cara, e é por essas e outras é que me atrai tanto o ensurdecedor silêncio do vento frio me cortando a pele. Pelo menos, enquanto caio, tenho certeza de que não me ouve.

Quase sempre eu penso que deveria parar de agir assim.

E eu não paro. Me para.

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